Seqüestro no Cone Sul
Seqüestro no Cone Sul

Agradeço

a Jan Rocha, uma inglesa notável, inteiramente dedicada à causa dos oprimidos do Cone Sul;

aos jornalistas de todos os meios de divulgação, pelo interesse com que acompanharam os fatos, pela coragem com que os revelaram, pelo despreendimento e pela colaboração, armas vitais na derrubada da muralha de mistério e na salvação do casal e das crianças, com minha especial gratidão;

aos advogados brasileiros;

aos políticos de oposição porque tiveram atuação destacada e decisiva;

ao Dino del Pino, pela assessoria no tratamento linguístico do texto, em seu desejado contorno final;

a minha secretária, Edenir Silva por sua indispensável e permanente ajuda.


Ofereço este livro

às mães da Praça de Maio e às mães uruguaias, a quem o Poder autocrático sonega o direito de, em sua própria Pátria, suplicarem pêlos seus.

A essas maiúsculas figuras que - prisioneiras da própria obsessão - já não lutam por aqueles que lhes são caros, mas pela própria Liberdade de Pensamento e pelo Direito de acesso à Verdade.

De Hebe Pastor de Bonafini a Maria dei Carmen Almeida de Quinteros -- a Tota -- especialmente esta, que a adversidade me fez conhecer, admirar e amar, por nela ver concentrada a poderosa expressão da ansiedade de todas.

Com isso, deixo de dedicar meu trabalho a meus pais, à Maria Helena e aos meus filhos, pois minha intenção não se pode sobrepor à tragédia que se abateu sobre o povo latino-americano, que haverá de permanecer firmemente decidido a resgatar seu trágico destino tiranizado pela abjeçao extrema e pela violência desencadeada pêlos donos do poder e pela compulsão ideológica dos estados policiais.


Prefácio

Na História Contemporânea da América Latina, o capítulo sobre as ditaduras militares do Cone-Sul, surgidas na esteira do episódio brasileiro de 1964, macula de forma indelével a geração que se deixou submeter, acomodadamente, a sistemas de poder que, em nome da segurança e da ordem, entronizaram a violência, a opressão e a inumanidade.

Em nosso País, no entanto, são de se ressalvar atitudes e posições de alguns homens - advogados, jornalistas, sacerdotes, intelectuais, líderes operários, estudantes, políticos - que não se guardaram em silêncio resignado e comprometedor. O papel por eles exercido, talvez só se venha a dimensionar corretamente quando houverem germinado as sementes que o seu exemplo lançou.

Omar Ferri, Advogado, situa-se entre os brasileiros que, pela açao desassombrada, tornaram-se defensores da causa pública nos sombrios anos da ditadura.

O seu livro sobre o sequestro de Lilian e Universindo desvenda, a um só tempo, a desenvoltura dos organismos de segurança de diferentes países, conluiados, e a reaçao do punhado de homens que se dispôs a enfrentá-los, resolutamente, ao preço da sua segurança e paz pessoal.

A opinião pública emocionou-se com a tragédia do casal uruguaio, agravada pela participação de duas crianças de tenra idade, Camilo e Francesca, filhos de Lilian, testemunhas de vista de muitos dos sofrimentos infligidos aos dois adultos, e cuja dramaticídade desponta no apelo desesperado de uma anciã: "Entreguem meus netos, pelo menos".

Mas o conhecimento que a Nação teve do caso, pelo noticiário cia Imprensa, formou-se tumultuadamente, ao influxo das revelações extraídas dia a dia, detalhe por detalhe, contradição por contradição, pêlos ïiomens que, invertidos os pólos, do lado de fora, investigavam os órgãos sobre os quais pesava o dever de desnudar a verdade.

A obra de Ferri, escrita com competência e conhecimento, pelo homem que se situou no centro dos acontecimentos, ministra uma visão integral, completa, sistematicamente exposta, coerente, documentada, irrefutável, tanto do fato como da luta desenvolvida para evidenciá-lo, apesar de tudo, luta vivida perante o Executivo, o Judiciário e o Legislativo, com os advogados e testemunhas muitas vezes convertidos em réus, e os acusados em acusadores.

Qualquer esmorecimento teria truncado irremediavelmente a investigação. Ou antes: teria deixado que ela percorresse, até o final, o leito tranquilo dos inquéritos inconclusivos, feitos não para esclarecer, mas para coonestar.

O Livro, por isto, tem ainda o mérito de demonstrar que a resistência de alguns setores da sociedade civil contra a prepotência, desde que exercida com tenacidade e aptidão, pode erodír a carapaça protetora dos regimes que se implantam e se sustém pela força.

O sul do Continente testemunhou, seguramente, milhares de violências iguais ou equivalentes ao sequestro de Lilian e Universindo. Mas este episódio se distingue dos demais porque, em decorrência de várias circunstâncias, entre as quais avulta a atua-çâo de Ferri, da OAB e dos jornalistas que com eles conjugaram esforços, foi possível inculpar algumas das autoridades envolvidas. É verdade que a condenação criminal alcançada, sobre ser leve, deixou ao largo muitos dos culpados: os principais, por sinal. Mas o desfecho das investigações e da açâo penal, no que tem de positivo, é válido, sobretudo, pela relevância moral.

O livro de Omar Ferri, documentando os fatos e a valorosa reaçâo a eles oposta, enseja o julgamento ético, pela História, tanto dos envolvidos como do regime a que servem, e que os quis agasalhar sob o manto da impunidade. O relato é feito com o calor emocional de quem viveu, também, a seu ângulo, o episódio.

Mas a vibração (a emotividade e o calor) característica dos advogados que se lançam ao trabalho mais por ideal do que pelo proveito económico que dele ihes pode advir, não enfraquece a obra. Até porque Ferri foi capaz de dotá-la de objetividade e, principalmente, de lastrear suas conclusões em fatos e documentos.

Eduado Seabra Fagundes


Omar Ferri Omar Ferri nasceu no município de Encantado em 30.04.33. Residiu 20 anos em Ilópolis, na época, distrito de Encantado. Fez seus estudos em Guaporé, Lajeado e, finalmente, em Porto Alegre, onde em 1957 formou-se na Faculdade de Direito da PUC.

Exerceu a advocacia em Encantado e, a partir de meados de 1964, na capital Gaúcha, onde travou batalhas judiciárias de alguma repercussão, a principal destas, na condição de advogado de Lilian e Universindo. Dos percalços que enfrentou nasceu a ideia de escrever o livro.

É homem de posições definidas, e acima de tudo percuciente observador e analista de problemas sociais e políticos.

Se confessa homem de esquerda, mas afasta qualquer tipo de rótulos, pois estes, conforme diz, são os responsáveis pela divisão e subsequente desarticulação das oposições face os regimes de direita.

Considera que estamos vivendo um momento de loucura coletiva, pois o homem que gasta 500 bilhões de dólares anuais em armamentos e que está destruindo a ecologia do planeta, da mesma forma está edificando sua própria sepultura.

Defensor intransigente dos Direitos Humanos, acredita na construção de um mundo melhor.

Tem esperança na simbiose entre o ideário socialista e o humanismo cristão.

Admirador de Giordano Bruno, dá ênfase a uma frase que considera célebre: "Que ingenuidade a minha pedir aos donos do poder a reforma do poder."

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Este libro ha sido editado en Internet el 01sep02 por el Equipo Nizkor y Derechos Human Rights